Os problemas do sistema carcerário brasileiro repercutiram
negativamente nos últimos dias na imprensa mundial. Jornais dos Estados
Unidos, do Reino Unido, da Espanha e Argentina, afirmaram que a situação
dos presos no Brasil é considerada desumana, ao noticiar o caso do
Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, onde 60 presos
morreram em 2013.
Devido a crise no Maranhão, o Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Direitos Humanos pediu nesta quarta-feira (8/1) que as autoridades
brasileiras tomem providências para colocar em prática, em todo o país, o
Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, instituído em
dezembro de 2013.
De acordo com o órgão, é lamentável ter de expressar preocupação com o
"terrível" estado das prisões no Brasil. Em nota, o Alto Comissariado
recomenda a redução da superlotação dos presídios brasileiros — não só
no Maranhão — e o provimento de condições dignas aos detentos. "Pedimos
que as autoridades brasileiras conduzam investigações imediatas,
imparciais e efetivas sobre esses eventos, processem os responsáveis e
tomem as medidas apropriadas para colocar em vigor o Sistema Nacional de
Prevenção e Combate à Tortura", declarou o Alto Comissariado.
O jornal espanhol El País observa que, apesar de o caso ser no
Maranhão, o problema ilustra "o que ocorre na imensa maioria dos 1.478
presídios do país". O jornal informa que a crise maranhense não é uma
novidade no Brasil e que o mesmo presídio já havia passado por uma
rebelião em 2010, quando uma inspeção do Conselho Nacional de Justiça
alertou para o potencial de crise no estado. A notícia espanhola lembra a
medida cautelar expedida pela Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH), órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA), e o
apelo da organização para um presídio em Porto Alegre, no Rio Grande do
Sul.
De acordo com a ONG Conectas Direitos Humanos, a população carcerária
no país cresceu 380% nos últimos 20 anos. Ao todo são 548 mil presos,
207 mil a mais do que o número de vagas no sistema. “Por trás dos
números, cultivamos um sistema prisional violador de valores, da lei e
de qualquer parâmetro razoável de eficiência. Ou seja, um sistema
inaceitável, ilegal e ineficiente”, afirma Lucia Nader, diretora
Executiva da Conectas.
De acordo com ela, o sistema é o próprio gerador da violência, “seja
por meio das facções — formadas no vácuo e incompetência do Estado — ou
pela forma como não recupera, nem ressocializa egressos à sociedade.
Estima-se que tenhamos hoje uma taxa de reincidência de 60%. É assim que
cultivamos um barril de pólvora, vendo na prisão a principal ferramenta
para inibir a violência e, na prática, só fazendo com que essa
aumente”, diz.
Um levantamento feito pelo Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP) entre fevereiro de 2012 e março de 2013 em 1.598 estabelecimentos
registrou 121 rebeliões e 769 mortes. Uma média de 2,1 morte por dia
dentro dos presídios. Além disso, a pesquisa registrou mais 2,7 mil
lesões corporais.
No início de dezembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar
Mendes lembrou que quando presidiu o Conselho Nacional de Justiça, em
2008, encontrou um quadro de desmando completo ao fazer os mutirões
carcerários.
Para ele, a situação vai além de ser um problema de direitos humanos,
mas de segurança pública. "A omissão do Estado é suprida por
organizações criminosas. Os privilégios são dados não pelo sistema
estatal, mas pelo sistema informal que se organiza no presídio", disse
em entrevista à colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo.
Diante da deficiência da Defensoria Pública para atender a demanda e da
falta de um modelo estruturado, o ministro propõe um serviço
obrigatório para advogados recém-formados. "Poderíamos pensar num
serviço civil obrigatório para todo jovem egresso das faculdades de
direito das universidades públicas. Eles ficariam um ano fazendo estágio
no sistema prisional", explica. Entretanto, o ministro reconhece que as
questões corporativas são um entrave à ideia.
Violência no Maranhão
Nesta terça-feira a Anistia Internacional manifestou preocupação “com a
escalada da violência e a falta de soluções concretas” para os
problemas no sistema penitenciário do Maranhão. Em nota, a ONG destacou
que mais de 150 pessoas foram mortas no estado, desde 2007, sendo 60 no
ano passado. “Nesse período, graves episódios de violações de direitos
humanos foram registrados nos presídios do estado, como rebeliões com
mortes, superlotação e condições precárias”, diz o documento.
A Anistia Internacional considerou inaceitáveis os casos de presos
decapitados nas penitenciárias e as denúncias de estupro de mulheres e
irmãs de presidiários durante as visitas. “É inaceitável que uma
situação como essa se prolongue por tanto tempo sem nenhuma atitude
efetiva das autoridades responsáveis”.
De acordo com a ONG, a medida cautelar decretada pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da OEA, em 16 de dezembro de 2013,
deve ser implementada, sem demora, de modo a assegurar “iniciativas
urgentes para diminuir a superlotação vigente, garantir a segurança
daqueles sob a custódia do Estado e a investigação e responsabilização
pelas mortes ocorridas dentro e fora do presídio”.
Na decisão, a OEA pede que o Brasil adote medidas efetivas para evitar a
morte de presos no presídio de Pedrinhas; a redução imediata da
superlotação das penitenciárias; e investigação dos homicídios
ocorridos. “Após analisar as alegações de fato e direito apresentadas
pelas partes, a comissão considera que a informação apresentada
demonstra que as pessoas privadas de liberdade no Complexo Penitenciário
de Pedrinhas se encontram em uma situação de gravidade e urgência, pois
sua vida e integridade pessoal estariam ameaçadas e em grave risco”,
diz a CIDH.
A decisão foi tomada após pedido de providências feito pela Sociedade
Maranhense de Direitos Humanos e pela Ordem dos Advogados do Brasil. Com
informações da Agência Brasil e Assessoria de Imprensa do Conectas.
Fonte: Consultor Jurídico
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